Terror no Cinema

Alimenta-se dos nossos medos, cria os pesadelos mais aterradores e muitas vezes procura inspiração na mais assustadora das realidades ou no quotidiano de qualquer um. O género de Terror é um dos mais antigos da História do Cinema e um dos mais ricos, para além de um dos mais mal compreendidos.

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Logo após a invenção do Cinema pelas mãos dos Irmãos Lumiére, em 1896, a nova arte desde cedo começa a ser desenvolvida por novos cineastas. Enquanto uns retratam a realidade com produtos mais documentais, outros pretendem sair da fronteira da realidade e criar histórias fantásticas ou mesmo aterradoras. Ainda em 1896, o revolucionário e inventivo George Mélies realiza The House of the Devil, considerado por muitos o primeiro filme de terror da história do cinema. No entanto, Mélies continua o seu percurso pelo fantástico mas dentro do género da ficção científica, deixando de lado o aspecto mais obscuro do novo cinema.

PHOTO_13491687_66470_20197532_ap - CopyApesar do cinema americano produzir as primeiras versões cinematográficas de Frankenstein (1910) e Dr. Jekyll & Mr. Hyde (1920), a primeira obra revolucionária do cinema de terror viria da Alemanha, pelas mãos de Robert Wiene, com Das Cabinet Des Dr. Caligari. Para além de ser uma obra de extrema importância para o género, marca ainda o início do Expressionismo Alemão, um dos movimentos cinematográficos mais importantes de sempre. O filme de 1920 abre portas para um género ainda muito pouco conhecido.
Dois anos depois, o cinema alemão volta a dar cartadas. F.W. Murnau apresenta uma das obras mais aterradoras de todos os tempos com Nosferatu, uma adaptação não oficial de Drácula de Bram Stocker. Não conseguindo obter os direitos para a adaptação da clássica obra de Stocker, Murnau desenvolve um projecto com maior liberdade criativa.

LonChaneySmall - CopyNo entanto, com uma indústria a crescer a cada dia que passa, o cinema americano não fica de braços cruzados. Em 1925, a Universal coloca nos cinemas The Phantom of the Opera, uma adaptação da obra de Gaspar Nöe e que tornar-se-ia um dos filmes mais emblemáticos do género. Lon Chaney interpreta a personagem do título e o seu trabalho é tremendo, tornando-se na primeira estrela de cinema do género de terror. Chaney, também conhecido como o Homem das Mil Caras, devido às suas dolorosas transformações físicas para melhor se adaptar a um papel, seria o primeiro duma longa linha de actores lendários. Após Phantom of the Opera, Chaney voltou a mostrar o seu talento em The Hunchback of Notre Dame e The Monster.
Com os êxitos das obras de Chaney, a Universal torna-se no estúdio especializado em filmes de terror. Em 1928, a Warner estreia The Jazz Singer, o primeiro filme falado de sempre. Com a chegada de tal obra, chega também uma nova tecnologia e o início do fim do cinema mudo. Em breve, também o cinema de terror teria de se adaptar.

dracula - CopyEm 1931, a Universal estreia Dracula, o primeiro filme falado do género. Com uma atmosfera assustadora, uma realização soberba e um protagonista carismático, Dracula foi um tremendo êxito para o estúdio, que continuaria a apostar no género. Com a chegada deste novo sucesso, o mundo conhece Bela Lugosi, um actor que ficaria para sempre na memória dos cinéfilos como o derradeiro Dracula. Lugosi torna-se na nova estrela do género mas estaria perto de conhecer o seu grande rival. No mesmo ano, o estúdio estreia Frankenstein, mais um monstro lendário do cinema. Boris Karloff interpreta a lendária personagem e torna-se ele também uma lenda do terror, criando uma rivalidade enorme com Lugosi que acabariam por trabalhar juntos em inúmeros projectos do género. Em 1935, o estúdio aposta na sequela The Bride of Frankenstein, considerado por muitos como um dos melhores filmes de todos os tempos.

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Bride of Frankenstein mistura ficção com realidade, ao servir de continuação ao primeiro filme enquanto coloca a autora Mary Shelley como personagem do filme. Voltando a 1931, estreia o clássico Freaks, de Todd Browning, um filme ambientado num circo repleto de pessoas com certos atributos invulgares.
No outro lado do mundo, a Alemanha continua a ser um forte impulsionador do género. No mesmo ano de Dracula, Fritz Lang estreia o thriller M e Carl Dryer mostra Vampyr, um filme com uma atmosfera terrifica. No entanto, é apenas uma questão de tempo para que os enormes talentos alemães partam para o outro lado do Atlântico.
A década de 30 representa uma era dourada do cinema de terror americano, com obras como The Mummy (1932), também com Boris Karloff; The Old Dark House (1932), filme que junta Karloff e Lugosi; White Zombie (1932), o primeiro filme de zombies e o primeiro a utilizar esse termo; The Invisible Man (1933); o lendário King Kong (1933), filme que representa um enorme êxito e que cria uma onda de filmes de monstros e The Werewolf of London (1934). Para além destas obras, a Universal começa a desenvolver sequelas de Dracula, sempre sem Lugosi.

wolfmanEm 1941, o estúdio cria mais um monstro lendário: The Wolfman, protagonizado por Lon Chaney Jr., o filho do Homem das Mil Caras. A rival Paramount ataca com uma nova versão de Dr. Jekyll & Mr. Hyde (1941) obtendo sucesso e apresentando uma sequência muito bem filmada da transformação da personagem principal no conhecido monstro. No entanto, apesar do sucesso destes filmes, as ideias começam a escassear. Os estúdios dedicam-se cada vez mais a sequelas das suas grandes personagens ou coloca-as frente a frente (Frankenstein Meets the Wolfman, de 1943, é um exemplo). O estúdio ainda dá ao público uma nova versão de Phantom of the Opera (1943), com Claude Rains mas sem obter o impacto da obra original.
Outros estúdios apresentam obras mais sérias e também de baixo orçamento. A RKO estreia Cat People (1942) e I Walked with a Zombie. Para além disso, a Paramount acrescenta mais um classico ao seu portfolio: o filme sobre uma casa assombrada The Uninvited (1944). Fora dos Estados Unidos, a Indía faz a sua estreia no género com Mahal (1949).
Guerra fria, medo de ataques nucleares e um público mais jovem, obriga os estúdios a repensarem a indústria. Estamos na década de 50 e o género de terror entra numa nova fase de grande revitalização, graças ao medo geral que o público sente.

936full-the-thing-from-another-world-screenshot - CopyCom grande parte das pessoas a recearem uma invasão da União Soviética, o cinema aproveita para criar filmes de ficção científica e terror, usando sempre vários temas como metáfora. Obras como The Thing From Another World (1951), Invasion of the Body Snatchers (1956) e The Blob (1958) são exemplos perfeitos desse tipo de cinema. Nos dois primeiros casos, o género de terror funde-se ao de F.C., união essa que produz excelentes resultados.

Para além do medo da invasão, vários países usam ainda o tema das armas nucleares como base para os seus filmes. Enquanto os americanos criam obras como Them! (1954) onde o planeta é atacado por insectos gigantes, alterados genéticamente devido a armas nucleares, o Japão leva Godzilla (1954) ao cinema. O monstro, interpretado por um homem dentro dum fato de borracha, fica mundialmente conhecido após a sua estreia e dá origem a uma franchise popular, tornando-se numa das criaturas mais emblemáticas do cinema, com direito a um pobre remake americano em 1997 e a um reboot marcado para 2014.

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Um dos grandes talentos dos anos 50 é Roger Corman. Corman possuí poucos conhecimentos de realização mas tenta a sua sorte depois de desilusões com os grandes estúdios. Swamp Women (1955) é um dos seus primeiros trabalhos e mostra o típico cinema do lendário realizador: filmes de baixo orçamento, destinados a um público adolescente que enchem os drive-ins para verem filmes de terror e ficção científica. Corman acaba por ganhar fama pelos seus filmes série B e por conseguir fazer várias produções em muito pouco tempo e com muito pouco dinheiro. Anos mais tarde, as produções de Roger Corman serviriam de escola para muitos futuros realizadores importantes como Martin Scorsese, Francis Ford Copolla, Jonathan Demme e James Cameron, para além de dar a Jack Nicholson os seus primeiros trabalhos cinematográficos.

vincentA década de 50 é também a década em que os espectadores conhecem melhor Vincent Price, outra das grandes estrelas do terror. Com House of Wax (1953), The Fly (1958) e os filmes de William Castle (The Tingler, House on Haunted Hill, ambos de 1959), Price torna-se num emblemático actor do género que é ainda hoje recordado. Anos mais tarde, teria a sua merecida homenagem em Edward Scissorhands, de Tim Burton.
Os anos 50 são também anos de experiências. Os primeiros filmes em 3D conhecem a luz do dia e encontram grande sucesso junto do público. O já referido House of Wax e The Creature From the Black Lagoon (1954) são dois dos exemplos mais conhecidos. Este último dá origem a duas sequelas da Universal.

ugetsuA vasta história do terror nos anos 50 ganha grande impulso fora dos Estados Unidos. Em 1953, o Japão estreia o seu primeiro filme de terror, Ugetsu, a França cria o clássico Diabolique (1955), a Itália contra-ataca com o seu primeiro filme de terror sonoro I Vampiri (1956)e o Reino Unido mostra grande força com a sua produtora Hammer, onde destacamos o clássico Dracula (1958), filme que populariza Christopher Lee como a personagem e The Hound of the Baskersville (1959), baseado na obra de Arthur Conan Doyle e protagonizado por outra cara conhecida do estúdio britânico e futura lenda do terror: Peter Cushing.
Os anos 50 trazem ainda a obra de Ed Wood, Plan 9 From Outer Space (1959), considerado o pior filme de sempre e uma das maiores obras de culto e de maior influência do cinema.
Depois duma vida prolífera nos anos 50, a década de 60 destina-se a ser uma das mais aclamadas do género, com vários tabus a serem quebrados, novos talentos a fazerem o impensável e com o mundo real a continuar a servir de inspiração.

little_shop_of_horrors_2Em 1960, William Castle continua em força com 13 Ghosts, mais um futuro clássico. No entanto, no mesmo ano, Roger Corman começa a levar ao grande ecrã as suas adaptações de clássicos de Edgar Allan Poe. House of the Usher é a primeira das suas adaptações de sucesso e conta com a participação de Vincent Price, actor regular das adaptações de Corman. Mas o realizador não se fica por aqui. No mesmo ano estreia The Little Shop of Horrors, uma comédia de terror que viria a ser um marco na carreira do cineasta. O filme é um produto de baixo orçamento e foi filmado apenas em 3 dias. A obra acabaria por tornar-se num grande objecto de culto.

psycho_386421Ainda no primeiro ano da nova década, duas obras importantes começam a quebrar barreiras dentro de algo tão polémico e complexo como a sexualidade. Alfred Hitchcock estreia o seu grande Psycho, onde conhecemos Norman Bates, homem que observa a sua nova cliente do motel que gere enquanto segue as ordens da sua mãe. No Reino Unido, Michael Powell realiza Peeping Tom, filme que segue as aventuras dum serial killer que filma as expressões de morte das suas vitímas. Enquanto Psycho foi um grande êxito de bilheteira, apesar das suas dificuldades de produção, Peeping Tom acaba por ter uma má recepção no Reino Unido e termina com a carreira de Powell no seu país de origem. Hoje em dia, são duas obras-primas.
Hitchcock volta ao género com um filme diferente. Desta vez são pássaros assasinos que atormentam o público em The Birds (1963), provando uma vez mais a mestria do cineasta dentro do género, conseguindo misturar habilmente terror e suspense.
Um dos grandes clássicos dos anos 60 é The Haunting (1963), realizado por Robert Wise. O filme britânico acompanha um grupo de investigadores numa casa assombrada e utiliza truques fáceis mas eficazes para criar o ambiente necessário para assustar o espectador. O filme ganharia um terrível remake em 1999.

blood_feast_poster_02Um dos grandes nomes americanos da década é Hershell Gordon Lewis. Com a sua obra Blood Feast (1963), Lewis apresenta uma invulgar dose de violência, algo que está a ganhar força no cinema americano. O realizador continuaria essa tendência com Two Thousand Maniacs (1964), por exemplo. Gordon Lewis é hoje em dia apelidado (e justamente) como o Pai do Gore e serve de influência para futuros cineastas.
Usar o tema da sexualidade está em voga nos anos 60, sendo que, na vida real, muitas barreiras estão a ser quebradas nesse tema. Um dos filmes que utiliza essa temática em força é Repulsion (1965), thriller de terror psicológico britânico que marca a estreia em língua inglesa de Roman Polanski.

Rosemarys-BabyOutra obra de Polanski, Rosemary’s Baby (1968) é mais um thriller psicológico onde a protagonista (Mia Farrow) acredita que o seu marido fez um pacto com os seus vizinhos em como a sua criança serviria de sacrifício para os seus rituais ocultos. A nova obra do realizador torna-se num grande êxito de crítica e de bilheteira e é imediatamente considerado um clássico.

O cinema de terror americano conhece ainda mais uma grande mudança em 1968. Na pequena cidade de Pittsburg, George A. Romero começa a filmar uma produção de baixo orçamento, a preto e branco, protagonizado por um actor negro, Duane Jones. A produção de Romero iria servir de critíca à sociedade da altura. No entanto, ninguém esperava que o impacto do seu pequeno filme fosse durar até aos dias de hoje.

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1968 é o ano de Night of the Living Dead. A obra de Romero muda a forma como os zombies são retratados no cinema e apresenta cenas de violência realistas. O resultado é um clássico absoluto e um dos filmes mais importantes e influentes de sempre.

black sunday 2 - CopyAinda nos anos 60, outro cinema de terror começa a ganhar forma. Em 1960, o jovem italiano Mario Bava dá-nos Black Sunday, filme de terror bastante visual e com uma forte carga de violência que faria com o filme tivesse cortes nos Estados Unidos e fosse banido no Reino Unido até 1968. Depois desta obra, Bava presenteia-nos com Black Sabath (1963), The Whip and the Body (1963) e Blood and Black Lace (1964). O filme de 64 é considerado o início do popular Giallo e um dos grandes repercursores do slasher movie. Bava seria grande influência para os futuros mestres Dario Argento e Lucio Fulci.
No Reino Unido, a Hammer continua a fazer as suas obras góticas que tantos fãs ganha. Peter Cushing protagoniza grande parte das versões britânicas de Frankestein e Christopher Lee volta a ser Dracula em Dracula: Prince of Darkness (1966).
Se a década de 60 quebrou vários tabus em vários temas, os anos 70 levariam as coisas ainda mais longe. Com temas actuais como o Vietnam e a religião, o cinema de terror haveria de pegar nesses temas e mais alguns para buscar inspiração.

i-spit-on-your-grave-obsessedwithfilmO cinema exploitation nasce logo no início da década. Sempre com filmes de baixo orçamento e com pouca moral no seu conteúdo, os filmes exploitation decidem pegar em temas que estão na moda e usá-los para seu proveito. Em 1978 encontramos um claro exemplo: I Spit in Your Grave, filme que usa a violência e sexo explicíto como formas de contar a sua história, para além de chocar o público. Mais uma vez, torna-se num filme banido em vários países e um objecto de culto. Em 2010, ganha um remake pouco conhecido.

LastHouseOnTheLeft_Cassel - CopyO cinema exploitation serve como rampa de lançamento para um dos futuros mestres do terror: Wes Craven. Em 1972, o jovem realizador vê nos cinemas o seu The Last House on the Left, filme de baixo orçamento que rapidamente torna-se objecto de culto, devido à sua realização crua e realista e à sua grande dose de violência e sexualidade. Em 1977, Craven confirma o seu talento com outro clássico de culto: The Hills Have Eyes. Os assassinos são pessoas que se escondem nas montanhas devido à sua aparência deformada. Também com uma elevada carga de violência, o filme é mais um êxito para o realizador, que faria uma sequela na década seguinte. Craven seria ainda o autor de A Nightmare on Elm Street (1984), filme que dá origem a uma nova saga de sucesso dentro do sub-género do slasher e que coloca Freddy Krueger, o vilão, como um dos maiores monstros do cinema.

the-exorcist-505702c41624bEm 1973, o realizador William Friedkin decide experimentar o género de terror, depois do seu óscarizado policial The French Connection. A sua estreia no género não poderia ser melhor. Baseado na novela de William Peter Blatty (e com argumento do mesmo), The Exorcist segue a história duma pequena rapariga americana que é possuída por um demónio. O filme alcança um sucesso sem precedentes no cinema de terror e é ainda hoje visto como o filme mais assustador de todos os tempos, devido às suas várias cenas impressionantes e ao seu tema religioso. Escusado será dizer que depois de tremendo êxito, Hollywood cria mais filmes de terror de temática religiosa como The Omen, filme de Richard Donner que também consegue o estatuto de clássico.

carrie_1976_5Outro dos grandes nomes do género nos anos 70 é Brian de Palma. Ainda em 1973, De Palma estreia Sisters, o seu primeiro thriller, e é bem recebido pela crítica, sendo admirado pela sua homenagem a Alfred Hitchcock. No entanto, o grande impulso para a carreira do cineasta foi em 1976. De Palma realiza Carrie, filme baseado na novela de Stephen King. O filme torna-se num clássico do terror e é ainda hoje uma das melhores e mais adoradas adaptações cinematográficas duma obra de King. Carrie entra também para a história como sendo a primeira novela do autor a ser levada ao cinema.

142224__texas_chainsaw_lNovo ano, novo clássico. Em 1974, mais um filme de baixo orçamento dirigido por um talento desconhecido é dado a conhecer ao mundo. Baseado num famoso assassino em série que inspirou Psycho, Ed Gein, Tobe Hooper, escreve e realiza The Texas Chainsaw Massacre, um dos mais importantes e influentes filmes de terror da história do cinema, para além de ser um dos mais aterradores. Ao mesmo tempo que cria um clássico intemporal, Hooper cria também um dos maiores monstros de terror cinematográfico: Leather Face, um homem de proporções assustadoras, com uma serra eléctrica e uma máscara composta de pele humana. Um novo mito é criado, naquele que é considerado por muitos o melhor filme de terror de sempre. Com um legado deste tamanho, Hooper parte para novos projectos, um deles uma sequela bastante inferior, produzida em 1986. Hopper ainda realizaria em 1982 Porltergeist, filme escrito e produzido por Steven Spielberg e futuro clássico.

jaws comin out the waterEstamos no Verão de 1975. A Universal e o desconhecido Steven Spielberg estreiam Jaws, um filme que acompanha 3 indivíduos vulgares na caça a um tubarão branco, causa de grande pânico na praia da pequena cidade onde se encontram. O resultado é um êxito de bilheteira estrondoso ( o maior até à altura), mais um clássico do cinema e o medo das pessoas em irem à praia durante uns tempos. Jaws abre as portas a Spielberg, a várias sequelas (todas elas inferiores) e a vários filmes que tentam replicar a mesma ideia. Com este filme, a indústria de Hollywood começa a mudar e com este exemplo e o de Star Wars, estreado dois anos depois, criam-se os blockbusters.
Entretanto, no cinema canadiano também encontramos alguns exemplos importantes. Em 1973, o género slasher começa a ganhar forma com Black Christmas, pequena produção independente onde encontramos um grupo de jovens a serem brutalmente assassinados. O filme ganharia estatuto de culto e um eventual remake americano.

shivers 3 - CopyNo entanto, o grande nome canadiano a reter no cinema de terror é o de David Cronenberg que, em 1975, inicia uma grande carreira dentro do género com Shivers, filme de baixo orçamento que ganha vários fãs pelo mundo inteiro e coloca o jovem cineasta no mapa. Mais tarde, Cronenberg realizaria outros clássicos como Scanners, Videodrome e o muito adorado remake de The Fly (1986), por exemplo.

draft_lens17632347module148262448photo_1297799518the-wicker-man-original.jO Reino Unido também tem uma forte presença no terror nesta década. Em 1973 The Wicker Man vai para os cinemas. O filme tem no seu elenco um nome de peso: Christopher Lee. Com um twist inesperado e clássico, para além de chocante, o filme rapidamente fica na memória dos espectadores e ganha uma enorme vida nos anos seguintes, sendo levado ao cinema americano em forma de remake em 2006, pelas mãos do dramaturgo e realizador Neill LaBute e com Nicolas Cage como protagonista. No entanto, os resultados foram desastrosos. The Wicker Man original ganha uma sequela em 2009 com The Wicker Tree mas os fãs não ficam impressionados.
Continuando no cinema europeu, a Itália é um dos países mais importantes para o terror nesta década. Aluno do mestre Mario Bava, o jovem Dario Argento começa uma prolífera carreira em 1971 com The Bird With the Crystal Plummage, um thriller visual e violento e bastante influenciado pelas obras do mestre Bava. Argento é considerado o Hitchcock italiano, devido às suas cenas carregadas de suspense e ao mistério acerca da identidade do assassino, aspecto muito presente no Giallo, género que o cineasta viria a dar grande importância.

Profondo Rosso (Deep Red) - Copy
Argento continua a sua carreira com outros excelentes thrillers. No entanto, em 1975, o realizador conhece o êxito internacional com Deep Red – Profondo Rosso, um Giallo brilhante, com um argumento bem estruturado e uma realização prodigiosa. A sua mistura de terror com thriller dão várias críticas positivas a Argento e Profondo Rosso torna-se num clássico absoluto e obrigatório para o género.

Suspiria_Bannion - CopyDois anos mais tarde, Argento estreia o primeiro filme da sua Trilogia das Mães, Suspiria. Misturando elementos de fantasia, Giallo e terror, Suspiria é uma obra de grande poder visual e é considerado a obra-prima do cineasta, tornando-se imediatamente num clássico de culto e num dos melhores filmes de terror de sempre, graças à mestria de Argento, com uma importante ajuda da fantástica banda-sonora dos Goblin. Inferno (1980) e The Mother of Tears (2007) são os outros filmes que constituem a trilogia idealizada por Argento.

zombies-mall-dawn-of-the-dead-1978Após conseguir um estatuto importante dentro do género de terror, o realizador italiano contacta George A. Romero com o intuito de ambos colaborarem numa sequela de Night of the Living Dead. Romero concorda e escreve o argumento da obra que ganharia o nome Dawn of the Dead. Novamente com um orçamento reduzido e com actores desconhecidos, o segundo filme daquela que seria a Trilogia dos Mortos tem lugar num mundo caótico, depois dos zombies conquistarem boa parte do planeta. Apresenta-se assim mais um clássico do terror, tão ou mais importante que o primeiro filme. Dawn é extremamente bem recebido pelos fãs e pela crítica e torna-se num dos maiores exemplos do cinema de terror, sendo visto como o melhor filme de zombies de sempre.

halloween 7 - CopyDepois dos já referidos Black Christmas e The Texas Chainsaw Massacre, o jovem realizador e argumentista John Carpenter começa a desenvolver um novo projecto, depois do seu êxito crítico com Assault on Precinct 13. No entanto, em vez de criar mais um western moderno disfarçado de filme de acção, decide invergar pelo cinema de terror, criando assim um novo monstro do cinema, uma obra incortornável e influente e lançando a sua carreira de vez como um dos mestres do terror.
Halloween é um filme independente passado na pequena cidade americana Haddonfield onde, num aparentemente vulgar Dia das Bruxas, vários jovens são assassinados de forma brutal. Buscado algumas influências na obra de Tobe Hooper, Carpenter dá origem a um dos sub-géneros mais populares do terror: o slasher. Halloween tem como vilão o imparável Michael Myers e é seguido de várias sequelas, todas de qualidade inferior ao original. O legado do filme de Carpenter é enorme já que, devido à popularidade que o filme alcança aquando da sua estreia, Hollywood decide copiar a fórmula e criar vários tipos de slasher movies, tendo em conta que são produtos baratos. Quanto a Carpenter, a sua carreira é cheia de futuros clássicos como The Fog, The Thing, Prince of Darkness, entre tantos outros.

alien-dome-jaw - CopyEm 1979, o género de terror funde-se com um dos mais populares da altura. O grande sucesso do recente Star Wars faz com que os grandes estúdios queiram aproveitar a popularidade da F.C., misturando vários géneros, sendo um deles o terror. Um desses filmes é Alien. O filme de Ridley Scott torna-se num clássico imediato e um êxito comercial. Recheado de suspense e momentos claustrofóbicos, Alien choca o público com a sua cena principal enquanto consegue fazer a proeza de arrepiar e assustar o espectador com os seus ambientes fechados. A obra ganha uma enorme importância no cinema de terror e F.C. enquanto cria uma nova onda de filmes de monstros, algo que continua a acontecer nos dias de hoje. Em 1986, James Cameron apresenta a sua sequela, Aliens, trocando o ambiente claustrofóbico por acção de cortar a respiração, através duma sequela de grande entretenimento e qualidade. Por sua vez, em 1992, David Fincher faz a sua estreia no mundo cinematográfico com o muito problemático Alien 3, filme que tem ganho fãs com o passar dos anos e, em 1997, Jean-Pierre Jeunet (Amélie) apresenta Alien Ressurection, o mais fraco da saga, apesar do seu grande valor como objecto de entretenimento.

lO cinema choque continua em alta na década de 80. O primeiro exemplo é Cannibal Holocaust, filme italiano que tem lugar numa tribo de canibais. O realismo aplicado nas cenas violentas é tanto que grande parte do público julga que as mortes são reais. Essa ideia perdeu-se quando, em tribunal, uma das actrizes cuja personagem morre, surge para defender a obra. No entanto, a polémica continua devido à morte real de vários animais, como uma tartaruga decapitada. Tal como acontece com muitas obras do género, o filme é banido de vários países durante anos.
Com o novo sucesso dos slasher movies, o cinema americano continua a apostar nesse produto. Friday, The 13th torna-se num grande êxito de bilheteira, dando origem a uma franchise enorme que se estenderia para além da década de 80. Prom Night (1980, protagonizado pela Scream Queen lançada por John Carpenter, Jamie Lee Curtis), My Bloody Valentine (1981) e Silent Night, Deadly Night (1984) são alguns dos exemplos de destaque.

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Em 1981 um dos monstros mais esquecidos do cinema tem um ano em grande, com duas obras clássicas. John Landis realiza o clássico de comédia e terror An american werewolf in London, filme que utiliza espectaculares efeitos especiais para a transformação do actor principal em lobo. No mesmo ano, Joe Dante leva aos cinemas The Howling, um outro conto de lobisomens com um tom mais sério mas de qualidade inegável. Ambas as obras ganham estatuto de culto, apesar do filme de Landis ser um objecto mais influente e amado pelos fãs. No ano seguinte, Paul Schrader, argumentista de Taxi Driver, realiza o remake Cat People, conseguindo um êxito de crítica, apesar de resultados pouco desencorajadores nas bilheteiras.

fright_night 85Também os vampiros têm a sua sorte. Em 1983, Catherine Deneuve, Susan Sarandon e David Bowie colaboram com Tony Scott em The Hunger, um thriller romântico que entra em competição no Festival de Cannes. No entanto, a recepção inicial não é das melhores. Apesar disso, a obra de Scott ganha estatuto de culto nos anos seguintes, sendo hoje em dia vista com outros olhos. Em 1985, Tom Holland escreve e realiza outro filme de vampiros, desta vez mais ligeiro e comercial, Fright Night. O filme alcança sucesso comercial dando origem a uma sequela. Devido ao seu seguimento de culto, o filme ganha um remake em 2011 e Holland tem liberdade para realizar Child’s Play (1988) onde conhecemos o boneco diabólico Chuckie. Para finalizar, em 1987 estreia outro clássico de culto: The Lost Boys, dirigido por Joel Schumacher. O filme é um êxito de bilheteira e de crítica e, anos mais tarde, dá origem a duas pobres sequelas que são produzidas para o mercado de DVD.

evil-dead-ii-1987-04-gEnquanto conhecemos novas obras de talentos existentes como Gremlins (de Joe Dante, 1984) e Day of the Dead (de George A. Romero, 1985) novos talentos vão surgindo. Um dos principais nomes é Sam Raimi. Depois de passar 3 anos a produzir a sua obra de estreia, realizada com poucos meios e com baixo orçamento, The Evil Dead consegue encontrar distribuição para as salas de cinema. O êxito é imediato, devido ao humor negro e à sua realização invulgar, fruto da mente de Raimi. Bruce Campbell, o protagonista, começa aqui a sua carreira como actor de culto devido à sua interpretação como Ash, o pobre sobrevivente da cabana atormentada por demónios.

evil-dead-2-4No entanto, a sequela de 1987, Evil Dead: Dead by Dawn, é um produto ainda maior dentro do género. O filme é um dos exemplos absolutos das comédias de terror, com situações bizarras e recheadas de humor extremamente negro. Ash, a personagem principal é brilhante e hilariantemente interpretada por Campbell, numa continuação que se assume como um remake (ou reboot) do filme original. O êxito entre os fãs e críticos dá origem a um terceiro filme, misturando comédia negra, terror, fantasia e aventura medieval: Army of Darkness (1992). Recentemente, Sam Raimi anunciou que iria juntar-se ao irmão, Ivan Raimi, para escreverem o argumento de Evil Dead 4, novamente com Raimi como Ash. Entretanto, Campbell e Raimi produzem o remake, com estreia marcada para Abril deste ano.

Re-Animator-1985-movie-3 Outro exemplo é Stuart Gordon. Re-Animator é uma comédia de terror baseada num conto de H.P. Lovecraft e lança tanto Gordon como o seu protagonista, Jeffrey Combs. Mais tarde, duas sequelas são produzidas sem a participação do realizador. Re-Animator torna-se num dos maiores objectos de culto da década e Combs fica conhecido como um actor de culto.

Toxic-AvengerEnquanto os grandes estúdios de Hollywood produzem várias sequelas das suas sagas de sucesso, uma pequena produtora começa a dar nas vistas. O primeiro grande êxito da Troma é The Toxic Avenger, um filme completamente trash, utilizando humor com cenas violentas, sempre com um cheiro a baixo orçamento e divertimento puro. A produtora do já lendário Loyd Kauffman continuaria a investir em Toxic Avenger, com mais 3 sequelas. A Troma torna-se numa produtora cujos produtos são dirigidos a um público específico, ganhando um enorme seguimento de culto. Matt Stone e Trey Park, os criadores de South Park, têm a sua rampa de lançamento com Cannibal, The Musical!, durante a década de 90. Outros talentos que fazem as suas estreias no cinema pela Troma são Marisa Tomei, J.J. Abrams, Billy Bob Thorton, entre outros.

3No meio de tantos a produzirem filmes de terror, um dos futuros nomes mais sonantes do género viria da Nova Zelândia. Após 3 anos a trabalhar no filme, Peter Jackson estreia Bad Taste (1987) no Festival de Cannes. A produção barata conquista o público e a crítica e permite a Jackson avançar com a sua carreira como cineasta. Em 1989, Meet the Feebles conhece a luz do dia. Trata-se duma comédia musical de terror, com uma diferente variante dos Muppets. No entanto, o lançamento definito de Jackson é com Braindead, considerado por muitos como o filme mais sangrento de sempre. Utilizando complexos efeitos visuais, muito gore e um humor negro específico, Braindead altera por completo o mito dos zombies, com uma abordagem diferente mas igualmente eficaz. O filme de Jackson viria a ganhar vários prémios, incluindo o Festival do Fantasporto.

jack nicholson in the shining
Com tantos filmes de terror a serem produzidos na década de 80, um dos exemplos que ganha mais força com o passar dos anos é aquele que coloca um dos grandes mestres do cinema na cadeira de realização. Em 1980, a abrir a década com chave de ouro, Stanley Kubrick estreia The Shining, adaptação da novela de Stephen King. O autor não fica contente com as alterações de Kubrick e o filme é injustamente mal recebido pela crítica, chegando a ser nomeado para os Razzies. Para além disso, a obra conhece um fracasso comercial. The Shining é hoje visto como uma das obras absolutas do cinema de terror, um dos melhores filmes de Kubrick e apresenta uma das melhores interpretações do seu protagonista, Jack Nicholson.

kobal_hellraiser460Recheada de vários clássicos de culto (onde podemos ainda incluir The Return of the Living Dead, 1985, e Hellraiser, 1987), os anos 80 são uma época muito específica dentro do género, onde tudo é utilizado para criar um filme de terror. No entanto, com tantas sequelas e produtos de baixa qualidade, o género perde força nas bilheteiras, algo que é se nota bastante na década seguinte.
As populares franchises de terror estão a morrer nas bilheteiras: Freddy Krueger e a sua saga de Elm Street está a falhar comercialmente, mesmo com o inspirado regresso de Wes Craven em The Final Nightmare, onde mistura ficção com realidade; Jason Vorhees é colocado de fora no nono capítulo de Friday, the 13th e conhece o fracasso e anos depois vai para o espaço em Jason X com resultados desastrosos, enquanto Michael Myers sofre dos mesmos erros criativos com Halloween VI a ser um fracasso.

silence-of-the-lambs-hannibal-560No entanto, ao mesmo tempo que estas populares sagas mostram sinais de cansaço, o cinema de terror americano começa a década em grande, através de obras aclamadas e de grande sucesso comercial. É o caso de Misery, adaptado da novela de Stephen King e que dá o Óscar a Kathy Bates. No ano seguinte, Jonathan Demme, um dos talentos lançados por Roger Corman, cria um clássico com The Silence of the Lambs, filme que ganha os 5 principais Óscares: filme, realizador, argumento, actriz (Jodie Foster) e actor (Anthony Hopkins). O sucesso destes dois filmes levam os estúdios a apostar em várias obras de terror, dando-lhes um orçamento elevado e com algumas das maiores estrelas de cinema. Nos anos seguintes, realizadores aclamados tentam a sua sorte com êxito: Francis Ford Copolla apresenta a sua versão da obra clássica Bram Stoker’s Dracula; Neil Jordan junta-se a Tom Cruise e Brad Pitt para Interview With a Vampire e Mike Nichols trabalha com Jack Nicholson e Michelle Pfeiffer em Wolf.
Apesar destas fortes apostas dos grandes estúdios serem, na sua maioria, êxitos de bilheteira e de crítica, e mesmo com as várias adaptações das obras de Stephen King impulsionadas com o sucesso de Misery, o género de terror viria a ganhar um enorme impulso em 1996, pelas mãos de um dos seus grandes mestres.

scream-4 - CopyDepois do seu regresso a Elm Street e da sua comédia de terror Vampire in Brooklin, com Eddie Murphy, a carreira de Wes Craven parece estar destinada a filmes falhados nas bilheteiras. No entanto, pelas mãos da renovada Miramax e com um elenco recheado de novos talentos, Craven leva ao cinema o argumento de Kevin Williamson, Scream. Recheado de referências ao género de terror e parodiando as várias regras do slasher movie ao mesmo tempo que se assume como tal, Scream rapidamente torna-se num clássico do terror moderno e volta a dar popularidade ao sub-género. Kevin Williamson rapidamente prepara a sequela. Scream 2 estreia um ano depois e é mais um êxito de crítica e de bilheteira, levando a um terceiro filme, desta vez sem Williamson e com uma resposta menos favorável por parte da crítica. No entanto a trilogia acaba com sucesso no box-office mundial. Em 2011 a saga vê o seu quarto capítulo a chegar às salas de cinema mas sem grande sucesso.
Outros slashers estreiam nas salas de cinema devido ao êxito de Scream: I Know What You Did Last Summer (escrito por Kevin Williamson) e a sua sequela; Urban Legends, Halloween H2o (filme que comemora os 20 anos da saga e que traz Jamie Lee Curtis de regresso) entre tantos outros. Ainda hoje, o slasher movie é um sub-género popular devido a Scream.

henryA década de 90 cria ainda dois clássicos de culto. Em 1990, o mundo conhece Henry: Portrai of a Serial Killer com um Michael Rooker assustador numa obra brilhante e violenta e, dois anos depois temos Candyman, filme que coloca Tony Todd (actor que protagoniza, em 1990, o remake de Night of the Living Dead, realizado pelo mestre de efeitos especiais Tom Savini) como um actor popular dentro do género. Candyman dá origem a várias de sequelas de pobre qualidade e pouco sucesso.

FromDusk05 Em 1996, o novo talento mexicano Robert Rodriguez junta-se à nova sensação do cinema americano, Quentin Tarantino, e juntos criam From Dusk Till Dawn. O filme é uma ode ao cinema de série B e assume-se como uma comédia de terror. Protagonizado por George Clooney, Harvey Keitel e pelo próprio Tarantino, o filme tem ainda no elenco o já referido Tom Savini e Fred Williamson, dus caras conhecidas dos filmes de acção e terror de baixo orçamento. A obra de Rodriguez torna-se num adorado objecto de culto e dá origem a duas sequelas, ambas produzidas para o mercado de video.

Blair_witch_project_720p_www_yify_torrents_com_3_largeA década de 90 do cinema de terror americano termina com grande sucesso: em 1999, através duma inventiva campanha de marketing, The Blair Witch Project torna-se no filme independente mais rentável de sempre (destronando Halloween) e lança um novo sub-género: o found footage, onde acompanhamos as personagens através das suas filmagens amadoras, proporcionando assim mais realismo.

6-centsNo mesmo ano, M. Night Shyamalan vê a sua carreira explodir com o enorme êxito que é o seu The Sixth Sense. Mistura de terror com drama sobrenatural, o filme é protagonizado por Bruce Willie e pela revelação Haley Joel Osmond, nomeado para um Óscar, e apresenta um dos finais mais surpreendentes de sempre, algo que faz com que o filme ganhe uma popularidade enorme. A obra de Shyamalan cria uma nova fornada de filmes de terror com temáticas sobrenaturais.

Para além destes dois casos, ainda temos o exemplar Tim Burton com o seu Sleepy Hollow, um conto de terror gótico com pitadas de humor negro que marca mais uma colaboração entre Burton e Johnny Depp. O filme é um êxito de crítica e de público.

Fora dos Estados Unidos, em 1992, o mundo conhece o novo talento que é Guillermo del Toro com o seu Chronos, produção espanhola que rapidamente torna-se filme de culto e lança a carreira do cineasta. Del Toro viria a dar o salto para os Estados Unidos com Mimic, filme de terror com Mira Sorvino que conhece um modesto êxito comercial, apesar de algumas dificuldades na pós-produção.

auditionO Oriente começa a ser um exemplo forte do cinema de terror. Em 1998 esreia Ringu, filme que lança uma nova moda dentro do cinema de terror. No ano seguinte, Takeshi Miike apresenta o seu Audition (Ôdishon). O filme é aclamado mundialmente e dá mais força ao cinema de terror vindo do Oriente.
Nova década, novo milénio, novos filmes de terror. Em 2000, o slasher movie começa em grande com The Final Destination, onde um grupo de jovens é perseguido pela morte. Tony Todd, de Candyman, começa a fazer uma participação na saga que teria mais 4 sequelas, a última estreada em 2011.

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Em 2002, uma outra franchise começa. Baseado nos populares jogos de terror da Capcom, Paul W.S. Anderson leva Resident Evil ao cinema. Numa mistura de terror com acção, o filme protagonizado por Milla Jovovich ganha uma enorme legião de fãs apesar de ser mal recebido pela crítica. O sucesso do filme dá origem a 5 sequelas, sendo que a última irá estrear em 2014.

freddy-v-jason-1Em 2003, algo inédito acontece. A New Line Cinema decide juntar dois dos maiores monstros do cinema e colocá-los frente a frente. Freddy Vs. Jason coloca Freddy Krueger contra Jason Vorhees, enquanto todos os adolescentes que se colocam à sua frente são violentamente assassinados. O filme relança as duas personagens no cinema devido ao seu êxito comercial. No entanto, ao contrário do que se pensa, nenhum dos dois ícones regressa ao cinema tão rapidamente e uma sequela nunca é produzida, apesar dos vários rumores.
No mesmo ano, o músico Rob Zombie faz a sua estreia na realização com The House of 1000 Corpses. Com um sentido de humor negro e sádico e personagens doentias, o filme não consegue apelar ao público em geral. No entanto, o filme ganha estatuto de culto e dá origem a uma sequela, The Devil’s Rejects.

Apesar destes exNaomi-Watts-as-investigative-reporter-Rachel-Keller-watching-the-mysterious-videotape-in-Dreamworks-The-Ring-2002-2emplos, o cinema de terror americano do novo milénio fica conhecido pela sua onda de remakes, algo que se extende até hoje. Sem ideias novas, Hollywood decide buscar inspiração ao cinema de terror oriental e aos grandes clássicos americanos. The Ring, realizado por Gore Verbinski e protagonizado por Naomi Watts, é o grande começo desta nova febre, após o êxito comercial e de crítica que o filme alcança. O filme ganha uma sequela com Watts a regressar mas a fórmula só resulta à primeira vez.
No entanto, o cinema de terror americano também começa a ser alvo de remakes. Zack Snyder realiza, em 2004, o bem recebido remake de Dawn of the Dead. O filme é um sucesso comercial e abre as portas para outras novas versões de clássicos. Em 2007, Rob Zombie, grande fã de Halloween, dá a conhecer a sua visão do clássico de John Carpenter. O filme é um êxito de bilheteira e ganha uma sequela, estreada dois anos depois e alvo de várias críticas negativas e de fracos resultados nas bilheteiras. Outros exemplos seguem-se: My Bloody Valentine; Prom Night; The Fog; Day of the Dead; Friday the 13th, The Texas Chainsaw Massacre e Nightmare on Elm Street, entre tantos outros.

saw1O cinema de terror americano desta década é marcado pelo nascimento de um novo sub-género: o torture porn. Em 2004, o filme de James Wann, Saw, começa a passar em vários festivais e consegue ganhar muita atenção. Quando o filme tem estreia comercial nas salas de cinema, os resultados de bilheteira são encorajadores. Com caminho aberto para uma sequela, o segundo filme rapidamente entra em produção. Começa assim a tradição de estrear um novo filme da saga a cada Dia das Bruxas. Apesar de péssimas críticas, o truque resulta com as primeiras sequelas. O sexto filme resulta num fracasso e abre as portas à estreia da saga em 3D, tecnologia que volta a estar na moda. Com resultados modestos, o sétimo filme é o último.
No entanto, o novo sub-género tem outro exemplo forte: Hostel. Realizado pelo novo talento Eli Roth (Cabin Fever) e com Quentin Tarantino como produtor executivo, o primeiro filme é um êxito de bilheteira. A sequela não tem a mesma sorte e a saga ganha um terceiro capítulo, distribuído directamente para o mercado de DVD.

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Depois de ser descoberto com The Blair Witch Project, o sub-género de found footage permanece escondido até à estreia de Cloverfield. Misturarando o sub-género com outro, monster movies, o filme ganha um marketing enigmático e apelativo, o que leva ao êxito de bilheteira. O filme, produzido por J.J. Abrams e escrito por Drew Goddard (argumentista de Buffy The Vampire Slayer), ganha estatuto de culto e as conversas duma sequela vão surgindo regularmente.

paranormal-activity-movie-katie-featherstone-micah-sloatDepois do found footage ganhar nova vida, o sub-género começa a ser explorado mais vezes. Em Espanha REC torna-se numa obra bem sucedida e aclamada, criando uma nova saga de terror. Nos Estados Unidos temos filmes como The Last Exorcism a obterem resultados satisfatórios mas é com Paranormal Activity que o sub-género mostra a sua força.
Com um orçamento bastante reduzido e produzido em 2007, o filme de Oren Peli tem uma invulgar estratégia de marketing e de distribuição, sendo exibido apenas em sessões da meia-noite nas cidades que pedem o filme. Depois da bem sucedida carreira nessas sessões, o filme ganha uma carreira comercial vulgar e faz mais de 100 milhões de dólares nas bilheteiras americanas, para além de ser aclamado como um dos filmes mais assustadores dos últimos anos. Paranormal Activity substitui Saw como a saga anual do Dia das Bruxas e está em desenvolvimento o quinto capítulo.

Zombieland-TV-showO cinema americano, apesar de recheado de remakes e sequelas, ainda consegue surpreender com pequenas obras como Zombieland (a resposta americana ao britânico Shaun of the Dead) e ao recente The Cabin in the Woods, realizado por Drew Goddard (Cloverfiled) e escrito pelo mesmo e por Joss Whedon, realizador de culto e criador de Buffy The Vampire Slayer. O filme, produzido em 2008, alcança um sucesso moderado mas é considerado pela crítica e pelos fãs como um dos melhores filmes de terror americanos dos últimos anos, devido à sua paródia do género, ao seu factor surpresa e às referências dos inúmeros sub-géneros que constituem o cinema de terror. The Cabin in the Woods é assim considerado o novo Scream, devido à forma como parodia o género enquanto se assume como sendo parte do mesmo.

fz5N1YLET4zQfNTfaYNuFora do mercado americano, o cinema de terror ganha bastante força em vários mercados. Começando em território nacional, temos Coisa Ruim, filme escrito por Rodrigues Guedes de Carvalho e que torna-se numa obra aclamada e a curta-metragem I’ll See in My Dreams, que passa nos cinemas portugueses com as cópias de The Exorcist – The Beggining, de Renny Harlim. A curta acaba por ganhar um pequeno seguimento de culto.

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O cinema espanhol é um dos melhores exemplos da última década. Para além do já mencionado REC, a década começa em grande com The Others, obra de Alejandro Aménabar. O realizador já tinha feito maravilhas com o thriller Tese e agora tem a sua estreia em inglês. The Others é protagonizado por Nicole Kidman e produzido por Tom Cruise e é uma obra bem recebida pela crítica e público, sendo vista como um novo The Sixth Sense.
Em 2007, o cinma espanhol tem mais um exemplo forte: El Orfanato, produzido por Guillermo Del Toro. O filme é aclamado pela crítica mundial e torna-se num dos principais exemplos do cinema de terror espanhol.

28-days-later-cillian-murphy-on-fire-haircutO Reino Unido tem também uma forte presença no género. Em 2002, Danny Boyle dá a conhecer o seu 28 Days Later e cria mais uma obra bem recebida que viria a ganhar um seguimento de culto e uma sequela de qualidade com 28 Weeks Later. No mesmo ano, o cinema britânico conhece o talento de Neill Marshall com o seu delirante Dog Soldiers, filme de comédia, acção e terror acerca de lobisomens. Dog Soldiers consegue ser um híbrido de filme de lobisomens com Aliens, de James Cameron, devido à sua elevada dose de acção.

Shaun-of-the-Dead - CopyEm 2004 e 2005, dois futuros clássicos britânicos chegam aos cinemas. Primeiro encontramos a comédia Shaun of the Dead, realizado por Edgar Wright e que é uma homenagem aos filmes de zombies do mestre George A. Romero. O filme ganha uma enorme popularidade em todo o mundo e chama mesmo a atenção de Romero, que diz ter gostado do filme e que o mesmo poderia ter lugar no seu universo de mortos-vivos. Romero viria a realizar o quarto filme da sua saga, Land of the Dead (2005), dando a oportunidade a Simon Pegg e Nick Frost, os protagonista de Shaun of the Dead, de fazerem um cameo.

the-descent - CopyEm 2005, Neill Marshall volta a provar o seu talento com The Descent. O filme é rapidamente considerado como um dos melhores filmes de terror da década, devido à sua violência, ao seu ambiente claustrofóbico, ao elemento surpresa e especialmente pelo desenvolvimento das suas personagens, algo que consegue elevar o choque da obra. Marshall vê a sua popularidade aumentar entre os fãs do género e The Descent torna-se num dos filmes obrigatórios do novo cinema de terror.
Entretanto, o cinema oriental continua em grande actividade. Takeshi Miike volta a atacar com os violentos Ichi The Killer e One Missed Call e outros filmes memoráveis fazem as delicias dos fãs. The Eye (2002); Ju-On: The Grudge (2003); A Tale of Two Sisters (2003); Shutter (2004); Premonition (2004) e The Host (2006) são alguns dos exemplos mais importantes. De realçar que grande parte destes filmes acabariam por ter um remake americano.
Mais outros países merecem destaque: a França vê o talento de Alejandro Axa ser reconhecido com o seu Haute Tension (2003), o que leva o realizador a Hollywood para dirigir o surpreendente remake de The Hills Have Eyes e a Suécia tem um dos filmes mais adorados dos últimos anos com Let The Right One In, filme sobre vampiros e a perda da inocência. O filme sueco acaba por ganhar um remake americano pelas mãos de Matt Reeves (realizador de Cloverfield) e consegue ser uma obra rara, onde o filme original é respeitado.

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O género de terror é um dos mais antigos e adorados pelo mundo inteiro. Milhões de espectadores sentem os arrepios das garras de Freddy Krueger a raspar nas paredes e o medo de assassinos imparáveis. Apesar da notável falta de originalidade, por vezes surge o filme de terror que surpreende toda a gente. E é aí que reside o futuro risonho de um dos géneros mais importantes e influentes de sempre.

4 responses to “Terror no Cinema

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